sexta-feira, 6 de março de 2020

Alheiras, e Alheira de Mirandela


“Alheiras, e Alheira de Mirandela – Do Imaginário à Materialidade da Memória” de António Manuel Monteiro

[…] como as matriarcas deste ramo familiar charcuteiro, e de denominação [alheira] já agarrada ao produto [mirandelense], talvez sejam as pioneiras no comércio exterior à região, na ligação à terra de origem, ao uso dos selos (de chumbo) de garantia e da própria nomeada, à técnica mais enriquecida e não ao saber grosseiro das primogénitas toucinheiras mirandelenses de hábito mais rural. Ao que [me] parece, foram as mais afamadas localmente e as que mais se destacaram pelos anos 20/30 em diante […]

Quando nasceu o filho Mário, à data da primeira guerra, em 1914, para uns, já produzia alheiras para venda à porta e de encomenda, para outros o negócio só viria a consolidar-se (ou mesmo a iniciar-se) depois da morte do primeiro marido, no ano de 1920/1921, aconselhado pelos [amigos] Guicho [alcunha do senhor Augusto Maria Lopes] e esposa M.ª Cândida Lopes (…) Para fora da terra, para o Porto, Coimbra ou para Lisboa, por despacho, só mais tarde! Pelos anos trinta. (Até vendia para os Menéres!)

É a súmula daquele ajuntamento de conversas e argumentações. E esta pressuposição é suficientemente consensual entre as memórias - e herdeiros de memórias - mirandelenses. Pacífico e convincente.


«O Grão-Mestre da Confraria dos Enófilos e Gastrónomos de Trás-os-Montes e Alto Douro diz que esta obra “é o resultado daquilo que estudei e pesquisei ao longo de vários anos” sobre este famoso enchido. “E não há volta a dar. Mirandela teve um peso significativo no desenvolvimento daquilo que é hoje este produto”, adianta.

São várias as histórias à volta do imaginário e da materialidade da memória em torno da alheira. “O livro tenta arrumar um pouco as ideias de como isto surgiu e porque tem a ver com a vivência rural de zonas do interior, nomeadamente o interior transmontano”, explica António Monteiro.
Uma dessas histórias passa pelo pão, que só há relativamente pouco tempo passou a ser um dos ingredientes deste enchido fumado. “Desde que aparecem as denominações históricas de enchidos, o pão nunca era utilizado. Não se desperdiçava o pão em altura de fome, para ensacar e guardar nas alheiras. Comida sem pão é comida de lambão, diz o povo. O pão é uma coisa mais recente nos próprios enchidos”, esclarece» [Rádio Brigantina]

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...
[também disponíveis os seguintes títulos do autor: “Crónicas Comestíveis”, “Estórias do Azeite”, “Palavras do Olival”; “Cozinha Transmontana” de Alfredo Saramago, fotografias Inês Gonçalves; “Comidas Conversadas – Memórias de Herança Transmontana”, “Identidades Que Se Comem – Da rusticidade alheireira à intimista Lhéngua Mirandesa”]


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