segunda-feira, 19 de junho de 2017

O homem sem memória


“O Homem Sem Memória” de João Madureira

O livro fala de memórias. Daquelas que fazem de nós aquilo que somos, que nos moldam, que nos aprisionam e que para o bem e para o mal são o nosso mundo e a nossa vida. Nele, o que sobressai é, sem dúvida, o estilo da escrita. Aparentemente simples, no entanto, intenso, com momentos hilariantes e outros de profundo pesar, embora estes últimos surjam disfarçados de fina ironia. É, sem sombra de dúvida, um espaço de ficção onde cada leitor vai por certo encontrar um ou outro momento que por si poderia ter sido vivido. Não há uma tese, mas a existir seria de como as ideias, ou as ideologias, se cruzam, se misturam, se confundem e nos confundem. Com a sua leitura a mente do leitor ficará certamente repleta de imagens memoráveis: uma revolução e mais outra, um seminário, muita propaganda (agitprop) e cerveja, uma mãe lutadora e sofredora, um superpai paciente, uma caçada ao javali, mais prisões, uma escola de pioneiros e de como aprenderam a redigir e outras brincadeiras de crianças, estas últimas dos escuteiros mirins. Os acontecimentos sucedem-se em cascata, mas de forma calma, proporcionando tempo para a reflexão de quem lê. Como fio condutor da narrativa temos a procura de alguma verdade, de algum entendimento sobre as coisas e sobre as relações humanas, residindo o seu leitmotiv no sentimento que sobressai da ligação entre as personagens principais e da sua acção… o amor. Uma palavra tão ridicularizada e minimizada quase sempre à relação entre homem e mulher e que aqui aparece com toda a sua extensão e esplendor: terno, sempre intenso, ao mesmo tempo tolerante e intolerante, justiceiro, lutador, abrasador…

João Madureira nasceu no concelho de Chaves, em 1958, onde reside. Viveu a sua primeira infância em Lisboa, fazendo, assim, um percurso um pouco ao contrário do habitual, da urbanidade para a ruralidade, chegando à sua terra natal na adolescência. Professor de profissão, sempre esteve ligado às artes e, sobretudo, à escrita. Foi jornalista e continua a escrever artigos de opinião em jornais regionais. Fez rádio e dedicou-se desde jovem à fotografia. Editou, em 2004, o romance Crónica Triste de Névoa  e tem divulgado diversa poesia e contos em revistas e colectâneas. Destacam-se “Demónio sem Rabo” na Antologia Galega de Contos do Sacaúntos Romasanta e “Chove na Ponte Escrita”, na colectânea de contos do primeiro encontro da Ponte Escrita em Chaves. Autor do blogue “Terçolho”, a sua obra está quase toda publicada em e-book. É desta publicação que se extrai O Homem sem Memória, um folhetim romanceado, editado periodicamente durante 147 semanas. Nele deparamo-nos com o humanismo do escritor, pela importância que atribui à dignidade, ambições e aptidões humanas e, ainda, com uma forma de olhar o mundo e de o descrever que é bastante singular ao ser, simultaneamente, afectiva, racional e prática.

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...
[disponível também da autora o seguinte título: “Crónica Triste de Névoa”]

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